O Triângulo Virtual das Bermudas
Saber que alguém está bem online é motivo para não
procurar contato pessoalmente. Fato bastante real do cotidiano. A cada dia
surgem novos dispositivos que prometem facilitar a vida e nos deixar conectados
às mais diversas redes sociais. O contato presencial é deixado “meio que de
lado”. Substituído por uma virtualização de relacionamentos, se expande
rapidamente diminuindo as ações concretas. O virtual cria uma zona de conforto
física. Somos navegadores de um mar repleto de ondas, mas sem água.
A sede por informações cresce desde
quando as fontes de informação concentravam-se nas pessoas: professores,
anciãos, inclusive nossos pais, por exemplo. Assim, logo após a internet, nos
penduramos diariamente nas redes virtuais em busca de nossos desejos ou apenas
para consumir conteúdos com algum objetivo específico. Esse consumo desenfreado
de informações é baseado em atender alguma de nossas necessidades. Atendidas ou
não elas nos deixam imersos no oceano de bits, à bordo de uma nau de buscas e
dos botes das redes sociais.
Enquanto estamos com vinte janelas abertas navegando
na web, o Amyr Klink já deve estar na metade de uma das suas expedições pelo
mundo. Quantos KKKs seriam necessários para equivaler a um sorriso de uma
conversa cara a cara? Há quem defenda com cliques e smiles a substituição de
aulas presenciais por as aulas virtuais de educação à distância. É muito válido
como pontapé inicial ou alternativa de contingência. A verdadeira energia de
uma interação nunca estará presente nesses casos. Hoje, gastamos mais tempo respondendo
a emails, comentários e postagens do que em conversa com as pessoas.
Os celulares e dispositivos de rede são praticamente
uma a extensão do corpo, mas abraços não podem ser transmitidos via bluetooth.
O mais incrível, para não dizer triste, é como as crianças ficam quietinhas com
um celular ou um tablet nas mãos. Onde foi parar toda aquela bagunça, que
deixavam nossos pais furiosos? Postamos tantas frases de efeito e otimismo nas
timelines da vida, mas são poucos os que as vivem de verdade. Praticá-las é o
grande desafio. Geralmente, todos estes gurus que as criaram, as viveram; e só
depois colocaram no papel – se é que algum dia eles escreveram algo.
Reparou naqueles casais que sentam nas mesas dos
lugares e ficam os dois de frente para os seus smartphones? Dia desses estava
eu bem na frente de um palco, em pleno show acontecendo e um jovem retirava do
bolso seu celular para ver e responder comentários do facebook a cada minuto. Tem
ainda aqueles casos em que uma simples mensagem deixada no perfil da pessoa
gerou polêmica ou desentendimento, quando na verdade era apenas uma piada. O
ambiente virtual nos sabota, é comum dar atenção demasiada há algo que nem
sequer existe além de pixels.
São tantas as redes sociais que administrar isso
tudo virou profissão. Empresas contratam especialistas para manter todas elas e
chegar ao volume máximo de pessoas atingidas. Será que esse marketing funciona?
E se funciona, consegue extrair algo de bom tanto quanto um contato presencial?
As pessoas físicas se institucionalizam a cada página criada, a cada perfil, a
cada conta. Postamos um comentário que automaticamente replica para duas mil
seiscentas e vinte e cinco redes sociais ao mesmo tempo. Tweeta para o facebook
que pina para o instagram replicar no google e no tumblr. Encaminha um email
que recebeu do gmail na caixa do hotmail que recebe as contas pessoais e do
trabalho juntas. E ainda reserva tempo para deletar e filtrar todos os spams
que chegam. É como praga em plantação.
Como sair deste Triângulo Virtual das Bermudas? A primeira
questão é analisar a utilidade de tudo isso. É mesmo necessário a gente ter uma
conta em cada rede social existente na web? Fazer uma desvirtualização dos
relacionamentos é uma ótima opção. Escolha alguém do seu facebook e vá ao
encontro dela para uma conversa. Você vai ver como isso recarrega energias.
Nossas baterias precisam de abraços e apertos de mão. Elas não funcionam com
cutucão. A verdadeira interação acontece pessoalmente. Olho no
olho, mente por mente. Sem receio, delete algum perfil de rede social, ou um
blog fantasma que tenha criado e nunca atualizou. Precisa mesmo varrer todos os
sites e portais de notícias logo quando acorda pela manhã? Estar informado é bom,
mas desapegue um pouco disso. O que é realmente importante, você sempre fica
sabendo sem ao menos ligar um computador. Minimalize o virtual e tenha mais
tempo para o real.
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