16º dia: Preconceitos musicais
João que gostava de funk amava Roberta que dançava calypso
que amava Mateus que gostava de reggae que amava Juliana que curtia Rock que
amava Fernando que gostava de sertanejo que amava Cristina que não ouvia
ninguém. João morreu no morro, Roberta se converteu, Mateus virou Rasta,
Juliana enlouqueceu, Fernando voltou ao Goiás e Cristina foi abandonada na
Igreja por Maurício, após saber que ela ouvia Justin Bieber escondido. Poucos
encontros, muitos preconceitos.
“Quem não gosta de samba bom sujeito não é.” Já
dizia Dorival Caymmi. E antes de sugerir culpa no cartório, é bom lembrar que este
ilustre músico baiano deixou grande legado para a música brasileira. Inequivocamente,
não foi ele quem incitou uma espécie de preconceito musical que atrapalha o sossego
dos ouvidos. O fato é que estereótipos foram criados ao longo do tempo pelo
senso comum.
Estilos de música consumidos por classes mais pobres
são as maiores vítimas. Quem nunca reclamou do som alto do celular de um
funkeiro desprovido de fone, no ônibus? Surgiram até campanhas na web para “conscientizar”
estes MCs quanto às regras de etiqueta, moral e bons costumes. Os carros com o batidão
acionando os alarmes alheios, os sertanejos nas esquinas de finais de semana
saindo do porta-malas das Hilux com adesivo de boiadeiro. Suingueira, forró universitário,
pós-graduado e doutorado. Doutorado mesmo só Luiz Gonzaga, diga-se de passagem.
Ninguém reclama dos clássicos. De fato, é raro (quase
impossível) ver um carro passando com Chopin no volume máximo. Ou ao som “estridente”
do banquinho e do violão de João Gilberto. Isso sim me parece louco. Mas, e se
ao invés do funk carioca fosse um rock, um reggae ou mesmo um samba, teria o
mesmo incômodo? Sim. Nem só de letra se faz música e o repertório de gostos é
vasto. Existem vários funks com letras positivas que ao contrário da maioria
não exaltam a visão rotulada de baixa cultura. Assim como também, vários hinos
do rock que cultuam a trindade: sexo, drogas e rock’n roll. Falhe-me a memória,
volume no talo era sinônimo de outro tipo de música.
As músicas da moda podem até não ter tanto conteúdo o
quanto acham que deveria ter. Mas deixam muito mais sorrisos no rosto do que
caras carrancudas intelectuais. Críticas vão existir sempre no mundo da música.
Rixas entre cantores e instrumentistas de gêneros distintos são rotineiras
desde quando se descobriu o dó-re-mi-fá-sol-lá-si. Se gostamos do artista, vez
em quando, tomamos as dores. É uma coisa que não dá muito para separar. Alguns teóricos
metidos à besta descem o sarrafo em cima dos Mestres de Cerimônia da
atualidade. Os bambas do samba, por sua vez, minam toda a esperança de
adolescentes que estão aprendendo a fazer o bom e velho rock, mesmo que de
forma colorida.
A despeito das dancinhas de verão, existem axezeiros
que ainda mantêm a linguagem da história cultural em suas letras, e não precisam
apelar para a sexualidade caça-níquel. Qualquer lado que se defenda na música,
automaticamente gera um preconceito sonoro. As últimas edições do Rock ‘n Rio
foram marcadas pela diversidade de estilos musicais e muitas críticas ao conceito
inicial do festival.
Parece difícil chegar a um consenso quanto ao direito
e a liberdade de escolha, sem se prender a estilos de vida ou mesmo a um jeito
de se vestir. É o bullying atuante no universo de gostos musicais das pessoas. A
onda sonora que guarda suposta superioridade de alguns gêneros musicais
tradicionais. Por mais eclético que seja, um músico nunca poderá agradar a gregos
e troianos. É premissa básica. Clichê. Todos os estilos têm seu valor. Há quem
ame e quem odeie. A discussão que evolui é saudável, traz o novo. Toda a música
é válida se algum dia fez alguém feliz.
rica
Música também é entretenimento...festa, pegação, bebedeira; é muito chato essa patrulha apontando o que é bom e o que é ruim. Acredito que falte acesso a grande parte da população à diversidade, pois estes (diga-se de passagem a maioria) tem uma relação passiva com a música - só escuta o que está na rádio. A internet tá aí pra isso, diminuir a distância entre os artistas e o público...mas não é o suficiente, infelizmente!
ResponderExcluirAfirmar o que é bom e o que não é, é muito subjetivo...os acordes que me abalam talvez não façam nem cosquinha em outro alguém.
Deivinin
É isso mesmo Deivinin. Essa diversidade que enriquece. Infelizmente alguns artistas usam seu poder de mídia e acabam por influenciar a grande massa de forma negativa e preconceituosa. Acredito que estamos evoluindo, a diversidade da MPB continua dando ótimos frutos e tendo muito reconhecimento. Lá fora, esse é que é o dilema.
ExcluirValeu pelo comment brother!