18º dia: Por um mundo com mais Ovelhas Negras
A história tem várias versões
para dar significado a degenerada expressão “ovelha negra”. Religiosos antigos
a consideravam força das trevas e até sacrificavam as pretinhas em oferenda aos
deuses. A origem é de pastores que preferiam as brancas pelo maior valor de
mercado. A lã branca podia ser tingida, ao contrário da negra. Nascidas por
ocorrência de mutação genética, as negras eram mais difíceis de cuidar e
geralmente não acompanhavam o rebanho. O mesmo acontece com a gente. Ser
diferente do rebanho implica não passar despercebido, estar em destaque,
opor-se a padrões determinados; seguir seu próprio caminho. E claro, incomodar
o tradicional. Não se pode tingir a lã que nos caracteriza como ser único em
todo universo, assim, do jeito que bem entender. É como colocar uniforme na
alma. Impor valores que privam a liberdade ou que estejam de acordo com um
sistema de segundas intenções.
Estamos imersos em rebanhos a
todo momento. Literalmente, religiões e crenças nos tratam assim. Cultuam-se
padrões considerados normais ao invés de focar o aproveitamento dos dons inerentes
de cada pessoa. O próprio senso comum carrega consigo através de gerações esse
valor engessado. O detalhe é que nesta seleção natural, surgem mais e mais
ovelhas negras, além de outras que não se deixam tingir. Defendem sua cor e a liberdade
de não pertencer a rebanhos, para infelicidade do preconceito e do modelo
arcaico da sociedade.
São aquelas pessoas que discordam
de convenções, que mais encontram soluções inovadoras. Como evoluir para algum
lugar sem quebrar paradigmas ou regras limitantes? Será mesmo que cada um deve
seguir o que uns e outros acreditam ser o ideal, o mais apropriado? No mundo
corporativo a expressão “ter o perfil” é bastante utilizada. É preciso ter
certo perfil para ser adequado. Ou seja, um monte de perfis e poucas caras de
frente. Inúmeros profissionais que olham de lado, de perfil. E muito poucos os
que olham nos olhos, de frente. Isto se aplica em qualquer outra área da vida.
Isto se aplica a nós mesmos diante do espelho. Você costuma olhar-se de lado ou
no fundo dos seus próprios olhos?
Ovelhas brancas seguem o pastor
chamado 8 horas de trabalho ou o fazendeiro aposentadoria aos 60 anos de idade.
Às vezes sem nem mesmo saber como isso foi institucionalizado. Já trabalhou
alguma vez em fábrica de carro? Não? Acredite. Essa rotina foi criada por Ford
em plena revolução industrial e se mantém até hoje! Não importa qual a
profissão. Este modelo de divisão de tempo, das cavernas, ainda impera no mercado
de trabalho. É como aquele experimento do macaco na jaula que apanhava dos
outros se subisse na escada para pegar banana.
Cinco macacos numa jaula, uma escada e no alto o cacho de bananas. Quando um macaco subia para pegar as bananas, um jato de água gelada era disparado nos que estavam no chão. Depois de um tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros o impediam e desciam a porrada. Outro tempo depois, nenhum macaco subia mais, apesar do maravilhoso cacho de bananas. Os cientistas trocaram um dos macacos por um novo. De imediato ele subiu a escada, mas logo foi retirado pelos outros de baixo de pancada.
Algumas surras depois, o novo integrante do grupo também não subia mais a escada. Um segundo macaco veterano foi substituído e aconteceu a mesma coisa. Inclusive, o primeiro substituto participou com entusiasmo na surra do novato. Um terceiro foi trocado e mesma coisa. Um quarto e, finalmente, o último dos mais antigos. Os cientistas então ficaram com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo recebido um banho gelado, continuavam batendo no que tentasse apanhar as bananas. Se fosse possível perguntar a algum desses macacos por que eles batiam em quem tentasse subir a escada, a resposta seria: "Não sei, mas aqui as coisas sempre foram assim.”.
Assim como os macacos a grande
maioria das ovelhas agem desta forma. Ninguém questiona mais o status quo. Mesmo cheio de talentos,
dons e capacidades. Pessoas que produzem mais durante o período vespertino ou
noturno obrigam-se acordar cedo para trabalhar, em locais muitas vezes
distantes de casa, chegando às oito para começar a efetivamente produzir, assim
que seus chefes chegam, em torno das dez.
Tem que ser assim. Tem que ser
dessa forma, deste jeito. Onde tiver “tem que”, nem precisa ir mais adiante. Já
reparou que tudo que tem que alguma coisa não é a sua voz quem diz? O que “tem
que” é realmente o que você quer? Essa expressãozinha parece limitar as nossas
escolhas. Nela não existe liberdade. Já trabalhei em locais onde era quase obrigatório
o uso de ternos em reuniões ou eventos importantes. Me perguntava sempre o
porque. Qual o abençoado que inventou que teríamos que ficar sempre confinados
numa sala, a arder de calor, com todos aqueles outros pinguins a discutir o
sexo dos anjos e marcar a conclusão para uma próxima reunião. Não havia
diferença alguma das vezes em que eu falava de jaqueta e calça jeans surrada, quando
não me lembrava (de propósito) de sair de casa parecendo um vendedor da Barsa. Sem
falar nas sextas-feiras em que se podia ir “mais à vontade”. Um mistério que
assombra toda a Comunidade da Negritude
das Ovelhas Libertárias.
Enfim, qual a cor da sua lã?
rica
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