6º dia: Desapego

quinta-feira, agosto 15, 2013 Rica Matsu 0 Comentarios



O mundo moderno impõe a cultura do acúmulo interminável de coisas. Quem não segue o padrão é taxado de ultrapassado e fora de moda. Não merece a classificação de atualizado com os valores da sociedade. Atrás deste rótulo arrojado, do estilo moderno, esconde o verdadeiro ser humano: simples e despojado de vaidades inúteis. Precisamos de roupas da estação, carros do ano e devices atualizados para não ficar por fora da civilização. Existe uma onda que começa a quebrar nas margens da vida que se chama desapego. Um modo simples de viver que não prioriza o consumo nem o padrão robotizado. Ao contrário do modo made in, traz realização pessoal e felicidade genuína. Engana-se, também, quem imagina que desapego é viver a contar moedinhas. Desapego é liberdade. Isto significa usufruir de toda a abundância que a vida pode proporcionar.

Quando se fala em desapego logo a gente pensa em coisas esotéricas ou caminhos espirituais a serem seguidos. Não deixa de ter seus adeptos. O contexto é outro, e que pode bem ser adicionado ao primeiro. O desapego vem da reflexão que muitos tem compartilhado: ter a vida mais simples e dedicada aos valores não palpáveis. Ou seja, os essenciais, duradouros e memoráveis.

O sonho daquele carro turbinado é substituído pelo apreciar de uma paisagem no calçadão, de frente para o mar e de forma saudável a bordo de uma bicicleta. Sem mencionar o item sustentabilidade. Ao invés de usufruir daquele clube caríssimo nos finais de semana, tem gente que está usando a grana para conhecer uma praia de cada estado do país. Pra não dizer do mundo. O desapego está até no ato de ter um animal de estimação. Como optar pela adoção de um cão vira latas, em vez de pagar um milhão de reais naquele filhote de cachorrinho daquela raça de nome impronunciável.


Muito além das coisas materiais, o desapego pode ser deixar de ter ciúmes de quem ama. Eliminar os vícios prejudiciais à saúde, como o cigarro, a bebida em excesso, drogas em geral. Este desagarrar-se conduz a hábitos saudáveis, econômicos e sustentáveis, que diminuem o estresse e trazem mais significado e propósito. Passar mal com fast food: nunca mais. Deixar de caminhar ao sol num domingo de manhã por conta de ressaca: adeus. E o melhor de tudo: ganha-se tempo, cada vez mais difícil de administrar. Ter um modo de vida minimalista e despojado faz com que se perca menos tempo com resultados desagradáveis de um consumismo inútil, por exemplo. Pra que ter dois carros se o trânsito não o deixa passar nem de quarenta quilômetros por hora. Já imaginou o que poderia fazer com esse tempo perdido?

Existem tantas mãos em cima, e tantas outras, nos puxando para um mundo, supostamente maravilhoso, de produtos e posses, que para enxergar o que realmente faz feliz é preciso ficar abaixando e levantando a cabeça, como quem procura alguém perdido na multidão. Passe por baixo das pernas, pule, abra caminho. Deixe para trás aquele monte de malas do Ter. Leve apenas a bagagem de mão chamada viver.

rica


0 comentários: