6º dia: Desapego
O mundo moderno impõe a cultura do acúmulo
interminável de coisas. Quem não segue o padrão é taxado de ultrapassado e fora
de moda. Não merece a classificação de atualizado com os valores da
sociedade. Atrás deste rótulo arrojado, do estilo moderno,
esconde o verdadeiro ser humano: simples e despojado de vaidades inúteis.
Precisamos de roupas da estação, carros do ano e devices atualizados para não ficar por fora da civilização. Existe
uma onda que começa a quebrar nas margens da vida que se chama desapego.
Um modo simples de viver que não prioriza o consumo nem o padrão
robotizado. Ao contrário do modo made
in, traz realização pessoal e felicidade genuína. Engana-se,
também, quem imagina que desapego é viver a contar moedinhas. Desapego é
liberdade. Isto significa usufruir de toda a abundância
que a vida pode proporcionar.
Quando se fala em desapego logo a gente pensa em
coisas esotéricas ou caminhos espirituais a serem seguidos. Não
deixa de ter seus adeptos. O contexto é outro, e que pode bem ser adicionado
ao primeiro. O desapego vem da reflexão que muitos tem compartilhado: ter a
vida mais simples e dedicada aos valores não palpáveis. Ou seja, os
essenciais, duradouros e memoráveis.
O
sonho daquele carro turbinado é substituído pelo apreciar de uma paisagem no calçadão, de frente para o mar e de forma saudável a bordo de uma bicicleta. Sem
mencionar o item sustentabilidade. Ao
invés de usufruir daquele clube caríssimo nos finais de semana, tem gente que
está usando a grana para conhecer uma
praia de cada estado do país. Pra não dizer do mundo. O desapego está até no ato de ter um animal de estimação. Como optar pela adoção de um cão vira latas, em vez de pagar um
milhão de reais naquele filhote de cachorrinho daquela raça de nome impronunciável.
Muito
além das coisas materiais, o
desapego pode ser deixar de ter ciúmes
de quem ama. Eliminar os vícios
prejudiciais à saúde, como o cigarro, a bebida em excesso, drogas em geral. Este
desagarrar-se conduz a hábitos saudáveis, econômicos e
sustentáveis, que diminuem o estresse e trazem mais significado e propósito. Passar mal com fast food: nunca mais. Deixar de caminhar ao sol num domingo de manhã por conta de ressaca: adeus. E o melhor de tudo: ganha-se
tempo, cada vez mais difícil de administrar. Ter um modo de vida minimalista e despojado faz com que se perca
menos tempo com resultados
desagradáveis de um consumismo inútil, por exemplo. Pra que ter dois carros se
o trânsito não o deixa passar nem de quarenta quilômetros por hora. Já imaginou o que poderia fazer com esse
tempo perdido?
Existem
tantas mãos em cima, e tantas outras, nos puxando para um mundo, supostamente maravilhoso, de produtos e
posses, que para enxergar o que
realmente faz feliz é preciso ficar abaixando e levantando a cabeça, como
quem procura alguém perdido na multidão.
Passe por baixo das pernas, pule, abra
caminho. Deixe para trás aquele monte de malas do Ter. Leve apenas a bagagem de mão chamada viver. ■
rica
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