No filme da vida, somos todos mocinhos

sábado, agosto 10, 2013 Rica Matsu 2 Comentarios


É inevitável: em todo filme, tanto o mocinho quanto o bandido quer a vitória. É sempre a mesma situação, os dois lados acreditam estar certos. Nenhum dá o braço a torcer. Eles brigam. Começa a luta do bem contra o mal, do amigo contra o inimigo. No pedestal, cada um com sua razão. O bandido é inimigo do mocinho. Da mesma forma, o mocinho é também inimigo do bandido. Dois inimigos! Acontece assim na vida real. Todo mundo quer estar sempre certo, quer levar a melhor, como se o tempo todo houvessem dois lados da moeda, duas forças opostas. Ou seja, mais brigas, mais disputas, mais competição.

Diante de um problema, é comum imaginar que ele só não foi resolvido porque não há diálogo. Falar abertamente é tarefa difícil, expressar os sentimentos é um desafio. Não por falta de comunicação, mas por falta de conexão. Explico. Apesar de vivermos em pleno “bum” das redes sociais, a conexão de ser humano para ser humano está caindo a toda hora. Muitas falhas, rede ocupada, falta de velocidade. Cada ponto dessa rede prefere manter-se numa relação superficial. Não é contato físico. É uma espécie de conexão do coração; de saber que estamos conectados um ao outro. Temos as mesmas necessidades e desejos em comum. Mas o pensamento de que somos mais importantes que o outro, nos faz exigir mais prioridade e mais atenção. Não conseguimos estabelecer uma conexão profunda coma outra pessoa.

‘‘Não somos inimigos, nem mocinhos, nem bandidos.
Somos um só.’’

Todos nossos comportamentos visam atender a alguma necessidade interna. Algo que precisamos: reconhecimento, respeito, amor etc. Inclusive, o desejo de coisas materiais. Agimos sempre na intenção de fazer o certo. Em princípio, mesmo que seja apenas para nós. Fazemos isso a todo momento. Ao surgir uma necessidade tratamos de correr atrás para atendê-la. Encontramos pelo caminho outras pessoas que também buscam atender às suas. Como estamos sempre com razão, identificamos no outro o opositor da nossa vontade. Acostumados a defender nossa causa, passamos a rotular e julgar nossos “inimigos” e fechamos a porta para uma conexão mais profunda. Desplugamos os cabos sociais.

Queremos sempre ser o cliente, nunca o fornecedor. Mesmo em interesses coletivos, queremos estar à frente. Chegar primeiro, ser o primeiro da fila. “Farinha pouca meu pirão primeiro”, só depois o outro. Existe um querer chegar em primeiro que não leva a lugar nenhum. O casal disputa pelo controle remoto. Não existe acordo, ou ele é chato ou ela é insuportável. Ambos querem apenas relaxar depois de um dia de trabalho, a necessidade é a mesma. Porém, cada um deles acha-se no direito de assistir seu programa favorito. Neste momento, a conexão ainda está na superfície, não tem profundidade. É estabelecida por rótulos e julgamentos.


Algumas relações de trabalho parecem filmes de guerra. Grandes chefes impiedosos contra os insubordinados rebeldes. Expressões como“cortes de cabeças” nos remetem a eras medievais. Existem soldados trabalhando por seus postos. E não seres humanos desenvolvendo seus potenciais. Há um mercado de trabalho no lugar de um campo de cultivo.

Não somos inimigos, nem mocinhos nem bandidos. Somos um só. O que nos falta é empatia: a capacidade de nos colocarmos no lugar da outra pessoa. Interagir e compreender emocionalmente. Sintonizar, ouvir e servir. Construir um sentido comum em benefício de todos. Usar nossa vulnerabilidade de forma natural para crescermos juntos. Ferreira Gullar nos dá uma aula de como escrever o final feliz do filme da nossa vida com sua frase autobiográfica: “Não quero ter razão. Quero ser feliz.”


Meu Obrigado! Obrigado! Obrigado! a minha professora pela oportunidade e o compartilhamento de seu conhecimento. #gratitude

2 comentários:

  1. Rica, maior alegria compartilhar saberes com você. Maior alegria ver que o mundo só tem a ganhar quando você faz suas entregas. Com Carinho. Paula.

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    1. Reciprocamente feliz, Paula! E quanto mais gente compartilhar esses saberes a gente torna o mundo melhor ainda! Valeuu! ;)

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