3º dia: Isolationphones

segunda-feira, agosto 12, 2013 Rica Matsu 2 Comentarios



Foi indescritível a sensação. O toque sensível sob meus dedos traziam um mundo de cores. Era como deslizar sobre todos os meus desejos. Meus sonhos estavam todos ali. Guardadinhos, reservados para mim. À minha espera! Não acreditava nas coisas que eu via por um espaço tão pequeno. Por essa brecha, via as pessoas mais lindas e interessantes. Nenhuma distância nos impedia. Era cara a cara o tempo todo. Falava tudo que um dia tive vergonha de dizer. Poderia ter o status que quisesse. Como eu me sentia livre, poderoso e cheio de atitude! Parecia estar sempre à frente de todo mundo. Até que um dia meu mundo caiu. Ao descer do ônibus, meu smartphone se precipitou de minhas mãos atirando-se na direção daquele bueiro infecto onde a enxurrada passava na velocidade da luz! Fiquei desesperado e sem chão. Com um fone amputado e ainda nem tinha pago a última prestação.

Onde Steve Jobs errou? Criou um dispositivo tão portátil que as pessoas acabaram entendendo que era para transportar a vida toda no bolso. O invento sim, pode ser atribuído a ele. Mas o encapsulamento do self não. De onde vem essa vontade incessante de converter vida em bits? De virtualizar as coisas. O conceito de felicidade agora vem com tela de retina e muitos gigabytes (com wi-fi opcional, é claro). Entender todo esse imbróglio tecno psicossomático é papo para uma postagem do tamanho de Os Lusíadas. A intenção deste artigo é demonstrar o que dá pra fazer com o dinheiro e o tempo gastos com estes dispositivos sorrateiros.

Existem infinitas possibilidades para se perder tempo
 e dinheiro com esses brinquedos. 

Hoje, por apenas R$ 2.399 você pode comprar um Apple Iphone 5, em 12 malandras... quer dizer suaves prestações de R$ 199,92 e gozar de toda a sorte de um mundo sintético de conversas, sensações e consumo. Quem sabe ainda não bate aquele papo com o Barack! Nem precisa ser o da maçã. Pode ser de outra fruta qualquer. Existem infinitas possibilidades para se perder tempo e dinheiro com esses brinquedos. Mas! Se preferir, pode usar as suaves prestações para malhar numa academia, durante o ano inteiro, e virar a sensação do próximo verão. Com direito a vitamina D e uma boa dose de saúde e disposição grátis! Ou passar uns dias em algum resort em Porto de Galinhas e esquecer, por uma era, o mundo corporativo. Ainda: entre em algum site de empreendedorismo e encontre uma das mais de 50 ideias de como montar sua empresa com menos de dois mil reais. Ainda 2! Faça um cruzeiro luxuoso e quem sabe encontre o amor da sua vida. Vale até dar um sacode no visual com essa grana. Gaste com autoestima e veja o retorno que não vai enxurrada abaixo.



É cada vez mais comum ver os casais sentados às mesas com suas respectivas telinhas touch, em silêncio, mastigando o desperdício de tempo juntos. Não existem mais conversas de elevador. A não ser comentários como: droga, a ligação caiu... Espantoso, não menos absurdo, foi saber que um homem fez uma cirurgia plástica nos dedos para poder adequá-los melhor ao "sensível ao toque".

Resumindo, podemos ser mais touch e menos screen.■

rica


2 comentários:

  1. Paradoxalmente, os que estão distantes se aproximam e os que estão próximos se distanciam.

    Deivinin

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    1. Fico pensando que a tecnologia nos deixa muito próximos, ela foi feita pra isso, mas que diabos estamos fazendo que não enxergamos isso? Preferir a telinha ao cara a cara.

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